segunda-feira, 31 de outubro de 2011

48 HORAS...

Nem sempre os nossos planos correm como o previsto. Nunca gostei de planear nada com muita antecedêndia, mas um fim-de-semana prolongado é suposto ter, pelo menos, 72 horas. Ora,  este que ainda está a decorrer teria e tem, em princípio,  96 aliciantes horas que me permitiriam sair do ambiente  diário rotineiro,  desfrutar da companhia de familiares queridos e respirar outros ares. Tudo isso de facto aconteceu, mas em 48 horas, já que me encontro novamente no mesmo local de partida. Aonde eu quero chegar é que neste curto espaço de tempo vivi momentos tão intensos,  inesperados e emocionantes que valeram mais do que  96 horas quando nada de novo acontece.  Houve momentos inocentemente belos, passados à distância,  que só eu compreendo e são  só meus. Esses vou guardá-los  para mim.


Esta encantadora menina - minha neta do coração - tem um sorriso lindo...mas não sorriu. Que pena Isa. Quem fica a parecer ter 14 anos sou eu. Está a ver o que a menina perdeu?



 Sonhar com os pés assentes no chão não tem o mesmo sabor do que  sonhar lá em cima. Visto do teleférico o Rio Tejo fica mais romântico. Todos concordámos. Excepto os mais novos. 
-"O que é romântico, avó...?" 

Esta é a Blackie, uma cachorrinha pastora alemã linda e dócil. Adora jogar à bola. Acreditam que o meu amigo Vitor Fernandes, grande amante de futebol nem sequer a quis conhecer? Porque seria?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

LEVIATHAN...E COINCIDÊNCIAS...

Foi durante o ano de 1996 que tive o meu período  Paul Auster! As minhas leituras foram sempre muito pragmáticas. Leio um livro de determinado autor e durante meses, já para não dizer anos, não sinto apetência por mais nenhum. E vou lendo e lendo sempre o mesmo autor até quase à exaustão. Já assim foi com Gabriel Garcia Marquez, Joanne Harris, Patrick Redmond, Jorge Amado, Elisabeth George e tantos outros. Quantas e quantas tardes de sábado passei na FNAC, de um Centro Comercial bem conhecido da cidade do  Porto, a procurar novos romances do autor eleito, no momento. Depois que a Net e os blogues entraram na minha vida a leitura passou para segundo plano.
Contrariamente àquilo que possa parecer não venho falar de literatura apenas. Hoje ao arrumar uns livros na prateleira de uma estante, soltou-se uma folha com algumas anotações de dentro do romance Leviathan do escritor acima referido. Costumo anotar alguns parágrafos ou frases quando elas vêm de encontro a algo que se enquadra na minha própria vida ou por qualquer motivo me deslumbram especialmente.  Da página 120 retirei esta frase: "Diz-se que uma máquina fotográfica pode roubar a alma a uma pessoa".

Da página 30 anotei um parágrafo que me fez lembrar de uma das minhas aventuras mais ousadas e solitárias de toda a minha vida. Tudo isto com uma data: 02/ 09/ 96 a 08/09/96.

 "Não foi por pensar que podia realizar alguma coisa lá, mas porque sabia que não seria capaz de viver consigo mesmo se não fosse." 

E fui pois, e li exaustiva e teimosamente Paul Auster e ouvi Nat King Cole e vi o Templo de Diana e  a Capela dos Ossos... Sozinha...mas fui! Ai...Évora...Évora!


A Máquina Fotográfica
É na câmara escura dos teus olhos
Que se revela a água
Água imagem, água nítida e fixa
Água paisagem
Boca, nariz cabelos e cintura
Terra sem nome
Rosto sem figura
Água móvel nos rios
Parada nos retratos
Água escorrida e pura
Água viagem trânsito hiato.
Chego de longe. Venho em férias. Estou cansado.
Já suei o suor de oito séculos de mar
O tempo de onze meses de ordenado
Por isso, meu amor, viajo a nado
Não por ser português mal empregado
Mas por sofrer dos pés e estar desidratado.

Chego. Mudo de fato. Calço a idade
Que melhor quadra à minha solidão
E saio a procurar-te na cidade
Contrastada violenta negativa
Tu a única sombra murmurada
Única rua mal iluminada
Única imagem desfocada e viva.
Moras aonde eu sei.
É na distância
Onde chego de táxi.
Sou turista
Com trinta e seis hipóteses no rolo
Venho ao teu miradouro ver a vista
Trago a minha tristeza a tiracolo.
José Carlos Ary dos Santos
Imagens da NET


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terça-feira, 25 de outubro de 2011

NO TOPO DO MUNDO...



Hoje...só quero sorrir!
Contra a chuva, contra o vento
O mau humor do momento
Digam lá o que quiserem
Estás no meu pensamento.

Não me perguntem porquê...
Hoje só quero sorrir!!

                                                                                                      

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Gracias a La Vida...!

                                                                                

Hoje a blogosfera está em Festa! O amigo Carlos Barbosa de Oliveira  do blog CR, está de Parabéns.
Dedico-lhe, numa simples homenagem, este meu post.

Carlos, não sei se gostas de ouvir a saudosa Elis Regina, mas presumo que sim.
Peguei no título do teu post e fiz dele também meu. Aqui te ofereço este poema, que espero te agrade.
Desculpa a simplicidade do texto. Penso que já me deves conhecer o suficiente para saber que sou uma pessoa simples, de palavras. simples.  Mas...sinceras!

Parabéns, Carlos! Que a Vida te sorria sempre.

Gracias a La vida

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el oído, que en todo su ancho
Traba noche y dia grillos y canarios

Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida,que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados

Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tanto sonho...tanta gente!

Imagem da Net



  
 "Esta é a Cidade"




Esta é a Cidade, e é bela.
Pela ocular da janela
Foco o sémen da rua.
Um formigueiro se agita
Se esgueira, freme, crepita
Ziguezagueia e flutua.

Freme como a sede bebe
Numa avidez de garganta
Como um cavalo se espanta
Ou como um ventre concebe.

Treme e freme, freme e treme
Friorento voo de libélula
Sobre o charco imundo e estreme.

Barco de incógnito leme
Cada homem, cada célula.
É como um tecido orgânico
Que não seca nem coagula,
Que a si mesmo se estimula
E vai, num medido pânico.

Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
Numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!

São automóveis, lambretas
Motos, vespas, bicicletas
Carros, carrinhos, carretas
E gente, sempre mais gente
Gente, gente, gente, gente
Num tumulto permanente
Que não cansa nem descansa

Um rio que no mar se lança
Em caudalosa corrente.

Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!


Poema de António Gedeão



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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

DESENCONTROS.

Imagem da Net


"Encruzilhadas"


Na encruzilhada da vida
A dúvida bate tão forte
Que a gente até perde o norte,
A recta, a rota e o rumo...
Perde o equilíbrio, o prumo
O tino, o jeito, e o porte.
Perde o fio da meada
E para encontrar a estrada,
É preciso muita sorte.



A razão com seu jeitinho
Fala para gente baixinho
Qual o caminho mais certo
Qual o atalho mais perto
Onde fica o paraíso!

Aí vem o coração
Cheio de sonho e paixão
A discordar do juízo...



A incerteza aparece.
Nosso peito então padece,
Sem saber a quem ouvir.

E para a gente se encontrar,
Aonde devemos ir?

Autor desconhecido






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sábado, 15 de outubro de 2011

PALAVRAS COM ALMA.

Não é novidade para os meus amigos de sempre, o quanto lhes quero bem e a importância que têm na minha vida. Não me recordo se alguma vez o disse publicamente, mas sei  já o ter dito em particular a alguns de vós, que não entrei para a blogosfera com o intuito de evidenciar seja o que for. Entrei por acaso, mas não tem sido por acaso que fui ficando. Foi por ter aqui encontrado pessoas maravilhosas às quais me fui ligando por laços de amizade e de partilha. Escritores, poetas, pintores, humoristas, fotógrafos, jornalistas, livres pensadores e idealistas que connosco vão partilhando os sonhos que lhes vão na alma, gente que gosta e entende de música, de política...e outros, tal como eu, sem um estilo definido. Todos nos comunicamos partilhando opiniões, concordando ou discordando. 
Claro que neste mundo nem tudo são rosas  nem a harmonia é total. Um amigo tem amigos e outro amigo, amigos tem. Nesta rede de amizades nem sempre agradamos a todos nem todos nos agradam a nós. Há amigos dos meus amigos que podem não gostar de mim e vice-versa. Até aí tudo bem. O que não é bonito nem fica bem é quando manifestamos, através de um comentário, a nossa opinião no blog de um amigo e vemos um amigo desse amigo, ao invés de comentar o que foi publicado, divertir-se com indirectas tentando atingir quem comentou. Esclareço que quando digo amigo, incluo os dois géneros. Se isso me atinge? Claro que não! Sempre ouvi dizer que os cães ladram e a caravana passa. E mesquinhez existe em todo o lado.

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Se há algo de que me orgulho é saber que neste mundo virtual tenho feito muito boas e sãs amizades. Por isso fico muito triste quando vejo um desses amigos ausentar-se e deixar o seu blog sem continuação. Razões pessoais, profissionais ou outras têm afastado alguns amigos, dos quais sinto muitas saudades.
Um deles, o meu grande Amigo e Poeta,  Juan Francisco Bravo Real, de quem vos deixo este belo poema.


  
 "Las Lágrimas del Poeta"


Quieres saber la razón
para que escriba poesías
com la mayor ilusión?
Porque tiene el corazón
Embargado de alegrías.

Y entonces él, generoso,
Aunque a veces retraído
Le susurra generoso
Ese sentir melodioso
Que brota de su latido.

Su corazón es la palma.
Su anhelo gozos humanos.
Y en la inquietud o en la calma
Nacen dentro de su alma
Y se escapan por sus manos.

Este poema foi transcrito do seu livro de poesia

"ENTRE RENGLONES"

Felicidades JUAN FRANCISCO, para ti e tua família.

Janita.

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terça-feira, 11 de outubro de 2011

BIZARRIAS!!

Imagem da Net 

Nestes últimos dias, mas principalmente desde ontem, quiçá - o que eu gosto desta palavra - influenciada por alguns factos que me têm despertado a curiosidade, no mundo da blogosfera, resolvi entrar no campo da pesquisa. Mais precisamente saber o que se passa nos bastidores do meu humilde cantinho.   Não é plausível nem admissível, sermos donos de um estabelecimento e não sabermos quantas pessoas nos entram portas adentro.  Por dia, por semana ou por mês, por exemplo.  Quais os caminhos que navegadores desconhecidos poderiam tomar para chegar até nós. Quais os Países, longínquos ou mais cercanos, cujos cidadãos, ocasional ou intencionalmente, tivessem vindo  espreitar à minha porta, e coisas assim. Foi aí que esta ideia, do absurdo e do bizarro, se instalou no meu cérebro e lá ficou a martelar. Ora vejam só isto:

Visualizações de páginas por país:  (com a opção "semana" seleccionada)

Portugal  - 186 /  Brasil - 34 / Estados Unidos - 13 / Rússia - 11 /  Roménia - 6 Alemanha - 4 / Espanha - 3 / Indonésia- 2 / Argentina- 1 / Canadá- 1


Alguém anda a brincar comigo, só pode!  Quem, na Rússia ou na Roménia, se pode interessar pelo meu blog? Ou então... eu não percebi nada do que isto significa.
Mas o meu maior desconsolo, foi saber quão sensaboronas são as palavras-chave que podem conduzir alguém até mim.  Tudo tipo assim: humildade - definição de lealdade e pertença - "tipos de fado"- e outras pirosices mais que eu nem vou dizer para salvaguardar o meu amor próprio, que por sinal até anda bastante por baixo. Agora pasmem, quem pesquisar - ejercícios en portuñol - assim, em espanhol e tudo, também vem cá ter. Isto é admissível?
Estou a pensar seriamente em fechar este blog e criar outro mais dinâmico e interessante. A única coisa que salvou a honra deste convento, foram as 1.043 visitas desde 04/10 até 11/10, ou seja, na última semana. Porque seria? Algo me diz que só pode ter sido por uma outra bizarria... 

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Como o verbo "resgatar" tem andado  nas bocas de quase todos nós, lembrei-me de um poema  de Pedro Homem de Mello, que gosto muito.  


"Resgate"

Não sou isto nem aquilo
E o meu modo de viver
É, às vezes, tão tranquilo
Que nem chega a dar prazer...

Todavia, onde apareço,
Logo a paz desaparece
E a guerra que não mereço
Dá princípio à minha prece.

És alegre? Vês-me triste?
Por que não te vais embora?
Quem é triste é porque é triste.
E quem chora é porque chora.

Tenho tudo o que não tens
Tenho a névoa por remate.
Sou da raça desses cães
Em que toda a gente bate.

Só a idade com o tempo
Há-de vir tornar-me forte.
A uns… basta-lhes o vento...
Aos Poetas, basta a morte.

 
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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

TENHO MEDO...PORQUE, SIM!

Penso que poucas serão as pessoas que têm a coragem de reconhecer os seus medos. Também eu, até há bem pouco tempo, me considerava mais corajosa do que aquilo que na realidade sou.
Bem que eu gostaria de conseguir tomar uma atitude que me deixaria em paz com a minha consciência e me tiraria de uma incerteza que muito me apoquenta.
No entanto, decidi não a tomar. Não é o medo do que possa vir a seguir; o NÃO  ou o  SIM .  Sou mulher suficiente para enfrentar essas respostas, ou outras, e aceitar o que viesse. O que me inibe é o medo do silêncio, essa terrível e impiedosa arma, que pode causar  danos piores do que as palavras mais cruéis.
Perante a auto aceitação do medo, dessa terrível forma de rejeição, tirei a máscara da minha pseudo valentia.  
E não é que agora me sinto melhor comigo mesma?  Sou medrosa, sim senhores!

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“POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO”

O medo vai ter tudo
pernas, ambulâncias
e o luxo blindado de alguns automóveis.

Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão, no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres, cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este.
Projectos altamente porcos
heróis, (o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais.
operários…(assim- assim)
escriturários (muitos)
intelectuais (o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com toda a certeza a deles…
Vai ter capitais, países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos, namorados, amantes silenciosos
ardentes e angustiados.
Ah o medo vai ter tudo…tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo,
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar, quase todos
a ratos…

Poema de Alexandre O´Neill 

( Há medos...e medos! O do O´Neill é diferente do meu. )

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SILÊNCIO E SOMBRAS.

  Foto  minha



“NUVENS”

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em todo o novo...
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...

 Álvaro de Campos in "Poemas"

( Heterónimo de Fernando Pessoa)

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