domingo, 23 de abril de 2017

Eu, Peter Pan Me Confesso.



(...)

      “Quando vou a escolas as crianças fazem muitas perguntas, mas, por vezes, com uma audiência adulta, ninguém quer intervir. Perguntar é uma exibição de ignorância e há alguma vergonha em fazê-lo, uma espécie de pudor, porque as dúvidas despem-nos: de repente estamos publicamente a mostrar a nossa nudez intelectual.
       
    Mas nem todos crescem assim. Temos bons exemplos ao longo da História: Sócrates fazia das perguntas o esteio dos seus diálogos, e, claro, não temia confessar a sua ignorância.

    Os japoneses têm um ditado curioso a esse respeito: “Perguntar pode envergonhar-nos durante um momento, mas ficar calado, num silêncio ignorante, é uma vida inteira de vergonha”.


      Da próxima vez que usarmos a palavra “didáctico” no “mau sentido”, talvez seja altura de olhar para dentro e tentar perceber onde é que enterrámos a criança que já fomos.”




Quando, hoje, li esta crónica do escritor Afonso Cruz, colaborador na Revista NM do JN, da qual transcrevo este curto excerto, abri um sorriso rasgado de orelha a orelha. Até pensei cá com os meus botões: isto veio cair como sopa no mel. E senti dentro do peito um secreto regozijo.
Ah...aquele lado mauzinho que guardamos em nós - todos os que ainda não enterrámos a criança que um dia fomos. :)

Eu explico melhor: - há dias comentei aí num conceituado blog, usando uma palavra repetida referindo-a no plural, mas com apóstrofe. Como todo o comentário era escrito em tom de brincadeira, nem sequer me perguntei se estaria certa ou errada, no que ao escrever em bom português concerne.

De pronto se levantou a sábia voz de um assíduo comentador daquele espaço que, assobiando para o lado, me (?) fez saber que o plural era manifestamente inadequado. 
Ao invés de ignorar a resposta - coisa própria de gente crescida - retorqui com uma pergunta à qual respondeu um outro comentador. Que não, não era no plural que estava o erro havia sido nessa apóstrofe, não no plural em si...

Qual criança que não se inibe em manifestar a sua ignorância lá voltei à carga perguntando ao outro: então diga-me lá como deveria expressar-me, s.f.f.

A resposta veio pronta, inequívoca e prazerosa, porém, a reboque, veio a prova provada de quem tem sempre razão e nunca se engana...Foi uma pena, ah...que pena tive!


Ninguém percebeu nada? Então...não perguntem! Não irei responder. :)))  Isto é coisa minha, um desabafo, por assim dizer...

Gostaria muito, isso sim, que me dessem a vossa opinião a respeito do tema tratado pelo cronista, ou seja, porque razão as pessoas sentem tanto constrangimento em fazer publicamente perguntas acerca de temas em que gostariam, e poderiam,  ver as suas dúvidas esclarecidas e o não fazem por vergonha. Sobranceria? Medo de desnudar a sua intelectualidade ou a falta dela? 


                                            Muito Obrigada. :)


Em tempo: A crónica tem por título: "Crianças Perdidas"


======================================

============================

22 comentários:

  1. Bem aviada estava eu se não fizesse perguntas. Em vez de ser um calhar com olhos era um calhau cego. E não, não tenho vergonha.
    Um abraço e uma boa semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso é a minha amiga que é uma pessoa com a cabeça no lugar!
      Eu, ainda que, por vezes, ande com ela na lua, também penso o mesmo.:)

      Um abraço, bom Feriado.

      Eliminar
  2. Também leio essas crónicas do escritor Afonso Cruz e gosto.

    Quanto ao teu suposto erro, minha querida, fica sabendo que só não erra quem não faz, por isso manda esses tipos «que sabem tudo» dar banho ao cão!!

    Infelizmente a sobranceria é uma das piores características desta nossa gente. Lado a lado com a arrogância , naturalmente, com a falta de humildade.

    Beijinhos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Na verdade, querida Graça, às vezes também me ponho a jeito, mas sem problema. Se há coisas que me passam ao lado é o que certas pessoas pensam de mim.
      Nunca agradamos a todos e alguns/as gostam de pensar que sabem tudo. Deixá-las lá com a sua sabedoria, né? :)

      Beijinhos e obrigada, querida Graça. :)

      Eliminar
  3. Temos, a este respeito, comportamentos diferentes ao longo da vida, passando todos pela idade dos "porquês". Passada esta e, no meu caso, passado pouco tempo já era um miúdo que sabia tudo... depois amadureci e entrei num período cartesiano até chegar a este ponto do "só sei que nada sei"... e como já não tenho a perder muito, quando é preciso saber, pergunto... mas é curioso, para as perguntas que coloco, poucos são os que apresentam respostas seguras...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois eu, amigo Rogério, ainda me encontro na idade dos 'Porquês'. E vou morrer sem saber tanta coisa...

      :)

      Eliminar
  4. Olá, Janita, penso eu que muitos não querem desnudar o que não sabem, há muito se vive o 'faz de conta', isso é, passar por sábios, inteligentes, magníficos.E nada disso acontece. Teremos sempre a carência por saber e aprender. É exatamente o que o grande pensador Sócrates disse: 'Só sei que nada sei'.
    Então por que vergonha de perguntar, de aprender? Vaidade das vaidades e tudo é vaidade! Assim somos nós, amiga. Mas amadurecendo, de verdade, as pessoas partem para outra.
    Beijo, querida nova amiga!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Taís.

      Há muito boa gente que pensa que, ao admitir desconhecimento sobre algo, é evidenciar baixa autoestima. Já li isso num blog. Mas eu, chego até a perguntar sobre algo que sei, ou penso saber, e, para ter a certeza, gosto de ouvir outras vozes. Maneiras de ser e estar na vida, o que não significa que eu esteja certa e elas erradas.
      Muito grata pela sua opinião, querida Taís.
      Beijinhos e boa semana.

      Eliminar
  5. Orgulho idiota, diria eu, Janita.
    Perguntar não só não ofende como é sinal de curiosidade e atenção.
    Beijinhos, boa semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Como dizem os nossos 'irmãos' do outro lado do Atlântico, orgulho besta, Pedro. :)
      Nem mais, só pergunta quem não percebeu o que ouviu, prova que se está atento. A vida é uma sala de aula, de onde saímos sem nunca se ter aprendido tudo...

      Beijinhos.

      Eliminar
  6. Também será necessário ter a certeza de que quem está em frente de nós percebe do assunto|
    o que se passa muitas vezes é que quem apresenta certezas engana os outros, porque não tem dúvidas e quer mostrar que sabe tudo !
    então também dá perguntar ao tio Google, e verificar vários sítios !
    abraço
    Angela

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Neste caso da crónica de Afonso Cruz, ele refere conferências sobre determinados temas, Ângela.
      Aí, partimos do princípio que temos na nossa frente alguém que nos pode esclarecer dúvidas, caso existam.

      Abração, boa semana. :)

      Eliminar
  7. O meu avo, já dizia
    Que quem faz uma pergunta
    Parece burro, e se junta
    Aos sábios. A alegria

    Vem depois, pois nessa via
    Que palmilhou, ele assunta
    A ignorância defunta
    E sábio se tornaria.

    Quem pergunta é burro apenas
    Uma só vez e às centenas
    De vezes, mestre parece.

    O homem é a vaidade
    Sobre duas pernas, com a idade
    A vaidade fenece.

    Grande abraço. Laerte.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Belo poema, caro Laerte!

      O seu avô é quer era pessoa entendida na burrice alheia.

      Muito grata, um abraço.

      Eliminar
  8. Pois...por algum motivo ainda hoje mexe comigo o poema "Na idade dos porquês " de Alice Gomes!

    Abraço grande

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Ricardo!

      Tomara a muita gente que se arvora em dona da verdade e do saber, saber um terço daquilo que tu sabes.
      Grande livro esse!!

      Um grande abraço.

      PS- Não me esqueci, mas fica para amanhã, Ok?

      Eliminar
  9. Eu sou das que pergunta, pede ajuda e comunica sem problemas e posso dizer que tenho reparado que muitas vezes estou rodeada de pessoas que parecem estar completamente dentro dos assuntos mas quando eu pergunto qualquer coisa que não sei verifico que grande parte delas sabe tanto como eu :))). Cada um sabe um bocadinho de muitas coisas mas ninguém é perfeito. Bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é isso o que o Afonso Cruz diz nesta bela crónica, Papoila! :)
      Já um outro nosso amigo costuma também dizer que todos juntos é que sabemos tudo, pois cada um sabe um pouco de alguma coisa, é juntando os saberes que nos completamos! :)

      Beijinhos.

      Eliminar
  10. Passo por aqui apenas para desejar um bom 25 de Abril

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :) E com isto e os actos já lá estamos, José!!

      Bom Feriado também para si.

      Beijinho, ao som de «Grândola Vila Morena».

      .

      Eliminar
  11. Óptimo texto, óptimo tema, óptima questão.
    Evidentemente que sem perguntas não há respostas e por isso é obrigatório perguntar a quem sabe, aquilo que não sabemos.
    Disse um tal George Simmel: culto não é quem sabe mas sim quem sabe onde encontrar aquilo que não sabe.
    (hoje estou muito filosófico)
    Beijokas

    ResponderEliminar
  12. Ora bolas, Janita!
    A resposta já está dada e bem dada. A timidez e a ignorância de muita gente que cresceu e viveu abafada em meios sociais adversos e repressivos poderá ser a explicação do "biquinho calado".
    Mas gente há que também tem esse comportamento para não estragar o nó da gravata. Faço-me entender?
    Bj.

    ResponderEliminar